No universo da música brasileira, poucos nomes despertam tanto carinho e admiração como o de Mallu Magalhães. Com uma carreira que começou cedo, marcada por autenticidade e uma voz inconfundível, Mallu construiu um caminho artístico onde a leveza convive com a profundidade.
Nesta conversa, falamos sobre a forma como a música sempre esteve presente na sua vida, os detalhes do seu processo criativo, as paixões que a movem e como Portugal se tornou uma parte essencial da sua jornada artística. De projetos que a enchem de orgulho a conselhos para quem está a começar, esta entrevista revela o lado mais íntimo e inspirador de uma artista que nos encanta dentro e fora dos palcos.

A música sempre fez parte da sua vida? Quando soube que era o sonho a seguir?
Sim… a música sempre foi natural para mim, eu sempre notei ritmo em tudo à minha volta, imaginava melodias e rimas no meu pensamento e encontrava alivio pleno em ouvir canções. Ouvir e fazer música sempre estiveram no centro da minha personalidade - é minha natureza. Sinto que sempre o fiz mais por necessidade do que por sonho. Na verdade eu nunca sonhei ser conhecida, celebrada ou famosa - mas senti uma espécie de conexão com uma causa e força maior quando me deparei com o impacto que minha música tem nas pessoas - saber que minha música pode fazer bem ou trazer alívio, companhia e esperança para outras pessoas assim como trouxe para mim é minha maior motivação.
O que nos pode contar sobre o seu processo criativo?
Cada canção tem um caminho, uma história e uma maneira de surgir; há músicas que aparecem quase prontas na minha cabeça, uma rima cativante ou uma linha melódica interessante, e depois o resto vem assim como uma cachoeira, tudo de uma vez mas, geralmente, surge uma ideia, um motivo, um pequeno trecho melódico que carrega um conceito, e depois há um longo processo de depurar e trabalhar a forma, harmonia e letra, que exige uma concentração plena e um grande mergulho naquele universo dentro daquela canção.
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O que mais a inspira no dia-a-dia?
As músicas surgem para mim por vezes autonomamente, enquanto conduzo ou caminho, em conversas internas e imaginação, ou quando toco algum instrumento - mas acabo por recorrer à música por diversos motivos. Por vezes é por lazer, por vezes é para processar algum sentimento, dizer algo que não consigo dizer com palavras ou até por encomenda. Quando alguém me pede uma canção também me sinto muito inspirada, gosto de imaginar o que aquele artista diria, sonha, ou sente.
O que mais a apaixona no seu trabalho?
Sentir a energia da conexão com minha existência através da inspiração, e devolver ao mundo em forma de canção como quem planta uma árvore ou dá um presente. Também gosto muito desse transe que experimento no palco, onde sinto uma libertação e entrega total , conectando com o público presente. São energias muito fortes e especiais.
Qual a parte do seu trabalho faz sentir mais feliz?
Acho que saber que fiz bem a alguém, que trouxe esperança, um abraço, uma risada, uma coisa boa qualquer à alguém.
Qual o projeto de que mais se orgulha e porquê?
Difícil escolher um só! Tenho muito orgulho de tudo que viz porque sempre fiz meu melhor e aprendi muito. Atualmente tenho me dedicado bastante à GranGran Records, meu selo, e tenho muito orgulho por poder trabalhar artistas que adoro, e por estar aprendendo tanto sobre o mundo prático de gerir uma empresa - que é bem desafiante para mim.
Como é que Portugal influenciou o seu trabalho?
Em Portugal tive muitas oportunidades. Primeiro, consegui uma vida calma e pacífica, caminhando muito, cozinhando, vendo paisagens lindas e conhecendo pessoas afetuosas. Fiz muitos amigos e consegui me dedicar à minha composição. Montar o nosso próprio estúdio (eu e Marcelo) também foi importante, porque me permitiu trabalhar com tempo e precisão na minha musicalidade, bem como trabalhar também em outros projetos. Artisticamente, acho que aprendi muito com a música portuguesa tanto de antes como de agora, com a maneira de os artistas usarem a língua portuguesa nas letras.
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Tem algum projeto ou lançamento emocionante planeado para os próximos tempos? O que nos pode desvendar?
Como tenho me dedicado muito à composição e à GranGran, passei algum tempo sem pensar num disco novo ou tour. Mas agora fiquei com saudade e vou começar a trabalhar em um novo disco, então acho que brevemente haverá emoções sim (:
Que conselho daria a jovens mulheres que estejam a dar os primeiros passos no universo da música?
Da minha experiência, sempre foi mais produtivo estar feliz e saudável entre pessoas com quem me identifico, com quem me sinto bem, e sinto que me querem bem. Muitas vezes procurei coragem dentro de mim para fazer algo que me foi solicitado, e achava que deveria vencer minhas fraquezas e avançar. Mas com o tempo notei que há momentos que devemos ter coragem para dizer que não. Meditar pela manhã sobre seus reais objetivos na vida me ajudou a tomar decisões e a sofrer menos no caminho - digo eu, do alto do meu não saber de nada haha.
Como é que o seu caminho se cruzou com a MESH?
Conheci a Mesh através de uma amiga (Carlota) e me apaixonei pela intensidade e profundidade dos conceitos presentes nos detalhes, num resultado harmonioso e delicado. Sinto que as peças dão uma sensação de confiança e força, ao mesmo tempo que carregam sensibilidade e autenticidade.
Tem alguma peça de joalharia MESH preferida?
Gosto muito dos nós, dos aneis Vine e Fleur, e das argolas Bagel.
Se pudesse criar uma peça de joalharia para si mesma, como seria?
Talvez encorporasse animais, números ou flores, de maneira pouco figurativa e mais simbólica - acho interessante quando a joalharia carrega uma espécie de história ou sonho, quase como amuletos.
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Fire Questions
Ocupação favorita: estar com minha filha
Um ritual antes de entrar em palco: abro as mãos e agradeço por estar viva e poder viver esse momento
Um artista com quem gostasse de trabalhar: Herbert Vianna
Um artista a quem deveríamos prestar atenção: Maria Luisa Capela
Uma música que ouve em loop: Spanish Boots of Spanish Leather, Bob Dylan
Um lugar onde volta sempre: praia
Um sonho a realizar: criar cabras em uma casa autossuficiente com horta e pomar perto do mar (específico).
A sua ideia de felicidade: minha filha sorrindo